Dr. Alfred Barrios – Hipnoterapia: Uma reavaliação

Por Dr. Alfred Barrios, PhD em Psicologia Clínica pela Universidade da Califórnia

 Introdução

Ao longo dos anos, houve surtos periódicos de grande interesse em hipnose. Muitos fenômenos extraordinários têm sido atribuídos aos seus efeitos e grandes reivindicações feitas quanto à sua eficácia na terapia.

No entanto, apesar de tais afirmações, ainda parecem ser relativamente poucos os terapeutas usando a hipnose como uma ferramenta importante. Por quê? Será que é porque as críticas geralmente dirigidas à hipnose são verdadeiras? Que é superestimada, na verdade limitada a uma pequena gama de problemas, incapaz de produzir mudanças duradouras?
Será que a remoção dos sintomas pela hipnose leva a novos sintomas? É perigosa? Não, existem demasiadas evidências clínicas contradizendo estas declarações. Tal evidência não pode mais ser ignorada. Percebe-se que a razão principal por trás da rejeição da hipnose tem sido o fato de ser uma desconhecida para praticamente a maioria das pessoas. Parece ser da natureza humana evitar ou rejeitar qualquer coisa que não pareça se encaixar ou ser explicada racionalmente, especialmente quando esta parece ser algo potencialmente poderosa. É principalmente sua natureza desconhecida que levou a muitas concepções erradas envolvendo a hipnose, e nos tem privado de fazer o melhor uso dela.

O propósito deste presente ensaio é apresentar algumas das evidências clínicas recentes que contradizem as críticas e concepções erradas comuns envolvendo a hipnoterapia, fornecer uma boa indicação de como fazer o melhor uso desta ferramenta, e oferecer uma explicação racional para os seus efeitos terapêuticos difíceis de se acreditar.

Visão Geral da Literatura Recente

Houve 1.018 artigos relacionados à hipnose nos últimos três anos (1966 a 1968), aproximadamente quarenta por cento destes relativos ao seu uso em terapia.

No mesmo período encontramos 899 artigos sobre terapia psicanalítica e 355 em terapia comportamental.

Ao contrário da opinião popular de que a hipnose somente é eficaz em certos casos específicos de remoção de sintomas, uma vasta gama de categorias de diagnósticos foi tratada com sucesso através da hipnoterapia. Isto inclui reação de ansiedade, neurose obsessivo-compulsiva, reações histéricas e desordens sociopáticas (Hussain, 1964), bem como epilepsia (Stein, 1963), alcoolismo (Chong Tong Mun, 1966), frigidez (Richardson, 1963), gagueira e homossexualidade (Alexander, 1965), várias desordens psicossomáticas, incluindo asma, abortos espontâneos, dismenorreia, rinite alérgica, úlceras, dermatite, infertilidade e hipertensão (Chong Tong  ,1964, 1966). Também, nos últimos anos, um número crescente de relatos indica que as psicoses são bem tratáveis com a hipnoterapia (Abrams, 1963, 1964; Biddle, 1967).

Três Estudos em Larga Escala

Três estudos em larga escala nos últimos cinco anos contêm resultados básicos.

O estudo de Richardson (1963) lidou com setenta e seis casos de frigidez. Ele relata que 94,7% das pacientes melhoraram. O número médio de sessões necessárias foi 1,53. O critério para julgamento de melhora foi o aumento na percentagem de orgasmos. A percentagem de orgasmos subiu de uma média pré-tratamento de 24% para a média pós-tratamento de 84%. Acompanhamentos (período exato não relatado) demonstraram que somente duas pacientes foram incapazes de continuar a alcançar o clímax na mesma percentagem apresentada quando o tratamento terminou. O método de tratamento de Richardson foi uma combinação de remoção direta de sintomas, exposição, e remoção de causas encobertas, pois ele descobriu que somente a remoção direta de sintomas nem sempre era suficiente. Ele não relata fracassos de indução hipnótica.

O estudo de Chong Tong Mun (1964, 1966) abrangeu 108 pacientes que sofriam de asma, insônia, alcoolismo, dismenorreia, dermatite, estado de ansiedade e impotência. A percentagem de pacientes que foram relatados como tendo melhora foi de 90%. O número médio de sessões foi cinco. O critério para julgamento de melhora foi a remoção ou a melhora dos sintomas. O período médio de acompanhamento foi de nove meses. O método de tratamento de Chong Tong Mun foi uma abordagem tripla. Com alguns pacientes ele trabalhou na reeducação do paciente em relação aos padrões de comportamento imediatamente subjacentes aos sintomas. Com outros ele primeiro retrocedeu o paciente de volta ao princípio original do sintoma. Após retroceder, ele reeducou o paciente para o fato de que a causa original não mais estava operante. Além disso, ele geralmente usava sugestões adicionais de remoção direta de sintomas.

O estudo de Hussain (1964) relata 105 pacientes que sofriam de alcoolismo, promiscuidade sexual, impotência e frigidez, transtornos sociopáticos da personalidade, reações histéricas, transtornos de comportamento, transtornos de crianças em idade escolar, transtornos da fala, e outras doenças psicossomáticas diferentes. A percentagem de pacientes reportados como tendo melhorado foi de 95,2%. O número de sessões necessárias variou entre quatro e dezesseis. O critério para julgamento de melhora foi a completa ou quase completa remoção de sintomas. Em acompanhamentos que variaram de seis meses a dois anos, nenhum caso de recaída ou substituição de sintomas foi notado.

A abordagem de Hussain é ilustrada pelo caso de uma mulher de 35 anos que exibia os seguintes sintomas: ansiedade, alcoolismo, depressão com tendências suicidas, promiscuidade sexual, insônia, e incapacidade de tomar decisões ou fazer planos futuros.

Antes do tratamento, Hussain localizou os vários medos e atitudes negativas que achava que estavam subjacentes aos sintomas — por exemplo, a paciente sentindo-se desprezada e não desejada em relação ao seu casamento, sentimentos de incapacidade de ser mãe, medo de sua própria mãe, medo de responsabilidade e de tomar decisões, e culpa por sua promiscuidade sexual.

Hussain usou então uma técnica terapêutica um tanto similar à técnica de dessensibilização de Wolpe (1958) para eliminar estes medos e atitudes negativas. Por exemplo, ele fazia a paciente pensar em uma situação particular causadora de medo, recondicionando-a por sugestões de que ela se sentiria calma e descontraída naquela situação. Esta abordagem particular é usada com muita frequência hoje em dia, de uma forma ou de outra. Abrams (1963) refere-se a esta técnica como uma técnica de “situação artificial”. Através da hipnose, o paciente é capaz de experimentar suas novas atitudes numa “situação artificial”, numa situação imaginada. Esta difere da abordagem de Wolpe em dois aspectos. Em primeiro lugar, Wolpe não usa a hipnose com frequência. E em segundo, Wolpe faz o paciente passar por uma hierarquia de “situações imaginadas”, indo desde a mais fácil de se lidar até a mais difícil. (Não existe razão, no entanto, de não se incorporar esta abordagem na hipnoterapia).

Com a paciente acima, Hussain usou também sugestões diretas de remoção de sintomas. Por exemplo, “aversão ao pensamento e a visão do álcool foi também estabelecida através de sugestão direta”. Esta paciente teve alta do hospital após doze sessões. “Nenhum sintoma relevante foi deixado para trás e não houve recaída durante os seis meses de acompanhamento”.

Método Atual do Uso da Hipnose

Como se pode ver nos estudos acima — e isto provavelmente é recebido com surpresa pela maioria dos pacientes e pela maioria dos terapeutas — o uso principal da hipnose não é um meio de remoção direta de sintomas. Nem é o seu uso principal um método de descobrimento. A tendência atual é usar a hipnose para remover atitudes negativas, medos, padrões de comportamento que não se adaptam, e autoimagens negativas subjacentes aos sintomas. O descobrimento de causas e remoção direta de sintomas ainda são usados até certo ponto, mas geralmente em conjunto com esta nova função principal.

No passado, tanta ênfase foi dirigida para os sintomas e processos doentios a ponto de alguns de nós nos sentirmos culpados por esquecer a pessoa no corpo. É nossa obrigação (hipnoterapeutas) concentrarmos em tratar o paciente em particular que apresenta o sintoma, em vez de o sintoma apresentado pelo paciente (Mann, 1963).

A hipnoterapia psiquiátrica, tal como praticada hoje em dia pelos mais destacados médicos da área, tem em comum com todas as outras formas de tratamento psiquiátrico moderno o fato de se preocupar não somente com os sintomas apresentados, mas principalmente com o impasse dinâmico no qual o paciente se encontra e com sua estrutura de caráter (Alexander, 1965).

A objeção de que os resultados da remoção de sintomas raramente será permanente certamente não é válida. Isto pode ter sido assim no passado, quando apenas a remoção era praticada e nada era feito para fortalecer a habilidade do paciente de lidar com sua dificuldade ou de encorajá-lo a ficar “de pé por si só” (Hartland, 1965).

Esta mudança está sendo enfatizada neste presente trabalho por que é parte de seu propósito encaixar a hipnoterapia no “contexto geral”. Muitos terapeutas rejeitaram a hipnose por que sua abordagem direta do sintoma no passado chocava-se violentamente com a abordagem dinâmica deles. Agora vemos que tal conflito não mais precisa existir.

A Abordagem Não Histórica vs. A Abordagem Histórica em Terapia

Alguns hipnoterapeutas usam, em parte, uma abordagem histórica, regredindo até a infância do paciente e mudando suas atitudes em relação às causas destes padrões (Fromm, 1965; Abrams, 1963; Chong Tong Mun, 1964, 1966). No entanto, em sua maior parte, a hipnoterapia é não histórica e, aparentemente, mais rápida. Se quiséssemos mudar a direção de um rio, seria muito mais fácil trabalhar sobre a corrente principal diretamente (uma vez localizada) do que subir rio acima, localizando todos os afluentes, e apontando cada um em uma nova direção.

Um Comentário Sobre os Perigos Atribuídos à Hipnose

No passado certos perigos foram atribuídos à hipnose, por exemplo: o perigo de uma crise psicótica, ou a substituição de sintomas mais prejudiciais. De acordo com vários pesquisadores (Kroger, 1963; Abrams, 1964) estes perigos foram excessivamente exagerados. Entretanto, quaisquer perigos que haviam, estes foram virtualmente eliminados por esta nova abordagem. Os poucos acidentes que ocorreram no passado resultaram de (1) do uso inapropriado da hipnose como um agente de revelação, ou (2) seu uso inapropriado como forma de remoção direta de sintomas. O primeiro tipo de uso inapropriado foi produzido por terapeutas que permitiam, ou forçavam, que o paciente se tornasse consciente de informações reprimidas sem ser forte o suficiente para enfrentar. O segundo tipo de uso inapropriado ocorreram quando os terapeutas arrancavam um sintoma que o paciente usava como muleta, antes deste estar suficientemente forte para andar por si só.

Hipnotizabilidade de Pacientes

Freud abandonou a hipnose por causa do “pequeno número de pessoas que podiam ser colocadas num estado profundo de hipnose” naquela época, e por que na abordagem catártica, os sintomas desapareciam primeiro, mas reapareciam mais tarde se a relação paciente-terapeuta fosse perturbada (Freud, 1955, p. 237). Nos estudos acima, os únicos fracassos em indução hipnótica foram relatados por Chong Tong Mun (oito fracassos em 108 pacientes). Isto pode significar uma entre duas coisas: os procedimentos de indução hipnótica melhoraram desde a época de Freud, ou que a abordagem de recondicionamento usada nestes estudos (em contraste com a abordagem catártica de Freud) não requer níveis muito profundos de hipnose. Existem evidências de que ambos os fatores podem estar envolvidos.

Embora muitos tivessem pensado que a suscetibilidade hipnótica era um conjunto de traços de personalidade, existem vários estudos que agora parecem indicar que este não é o caso, e que a responsividade pode ser aumentada por certas mudanças no procedimento de indução hipnótica (Pascal and Salzberg, 1959; Sachs and Anderson, 1967; Baykushev, 1969), bem como através de uma conversa introdutória (pré-talk) voltada a assegurar uma atitude positiva, uma expectativa apropriada e uma alta motivação em relação à hipnose (Dorcus, 1963; Barber, 1969; Barrios, 1969).

Em relação à profundidade de hipnose necessária para a abordagem de recondicionamento funcionar, existem vários terapeutas que sentem que somente um estado leve de hipnose é necessário (Van Pelt, 1958; Kline, 1958; Kroger, 1963). Um estudo por Barrios (1969) dá a este argumento algum suporte: foi verificado que um aumento na condição da resposta salivar podia ser produzida quase tão eficazmente por níveis mais leves de hipnose quanto por níveis mais profundos.

A última afirmação nos faz indagar se a indução hipnótica é de algum modo necessária para que a abordagem de recondicionamento funcione. A julgar pelo trabalho de Wolpe (1958), parece que a hipnose não é um requisito absolutamente necessário. Esta ideia também seria apoiada pelo trabalho de Barber (1961, 1965), que descobriu que fenômenos hipnóticos podem ser produzidos sem uma prévia indução hipnótica. No entanto, a verdadeira questão a ser respondida não é se a indução hipnótica é absolutamente necessária, mas se ela pode, além disto, simplificar o processo de condicionamento. O próprio Wolpe concorda que a hipnose aparentemente simplifica o condicionamento:

“Os pacientes que não podem relaxar não vão avançar com este método.

Aqueles que podem ou não serem hipnotizados, mas que podem relaxar vão fazer progressos, embora, aparentemente, mais lentamente do que quando a hipnose é usada

(Wolpe, 1958, p. 141.)

Além disso, apesar de o estudo de Barrios (1969) tenha indicado que o condicionamento poderia ser aumentado durante os níveis mais leves de hipnose, foi também constatado que não houve aumento no condicionamento com aqueles indivíduos que não respondiam à indução hipnótica.

Tal como observado na teoria (Barrios, 1969), a sugestão hipnótica e em estado de alerta estão no mesmo espectro e a indução hipnótica deveria ser considerada como um procedimento através do qual podemos aumentar a probabilidade de obtermos uma resposta mais positiva à sugestão. A próxima questão a ser decidida agora não é se os procedimentos de indução hipnótica aumentam a responsividade (isto é muito bem aceito – por exemplo, Barber, 1969), mas quais variáveis na indução hipnótica estão agindo como fatores chaves e o que pode ser feito para fortalecer a eficácia destes fatores.

Comparação com a Psicanálise e a Terapia Comportamental

Na comparação de Wolpe das abordagens da psicanálise e de sua própria (Wolpe, Salter, and Reyna, 1964), verificamos o seguinte: baseado em todos os pacientes psiconeuróticos analisados, o número de pacientes curados ou que tiveram grande melhora através da psicanálise foi de 45% em um estudo envolvendo 534 pacientes e 31% em outro estudo envolvendo 595 pacientes (os únicos dois estudos em larga escala na literatura sobre psicanálise). A duração média de tratamento para os pacientes com melhora (informada somente no primeiro estudo) foi de três a quatro anos com uma média de três a quatro sessões por semana, ou uma média de aproximadamente 600 sessões por paciente. Na abordagem de Wolpe, verificamos com base em todos os pacientes analisados que a taxa de recuperação foi de 65% em seu próprio estudo envolvendo 295 pacientes (geralmente relatados como 90% de 210 pacientes) e 78% num estudo de Lazarus envolvendo 408 pacientes. A duração do tratamento para os pacientes com melhora foi na média de trinta sessões no primeiro estudo e quatorze no segundo

Calculando as estatísticas acima, concluímos que com a psicanálise podemos esperar uma incidência de melhora de 38% após aproximadamente 600 sessões. Com a terapia Wolpiana, (também conhecida por “comportamental”) podemos esperar uma incidência de melhora de 72% após uma média de 22 sessões, e com a hipnoterapia podemos esperar uma incidência de melhora de 93% após uma média de 6 sessões.

É interessante notar a correlação negativa entre o número de sessões e a percentagem de incidência de melhora. À primeira vista isto parece paradoxal. No entanto, se uma forma de terapia é verdadeiramente eficaz, esta não apenas deveria aumentar a incidência de melhora, mas também encurtar o número de sessões necessárias (bem como ampliar a gama de casos tratáveis).

A Necessidade de uma Explicação Racional

Apesar de todos os relatórios encorajadores, continua a ser considerável a hesitação por parte dos psicoterapeutas para usarem a hipnose. A hipnose ainda é encarada como uma “desconhecida” pela maioria dos terapeutas. Estes ainda não estão cientes de qualquer explicação racional para os fenômenos hipnóticos que os satisfizessem, uma explicação que colocasse estes fenômenos ao nível de fatos e leis observáveis. Enquanto a hipnose continuar a emitir um cheiro de misticismo e charlatanismo, ela continuará a ser rejeitada por muitos, não importando quão grandes sejam as reivindicações em seu nome.

Uma Explicação Baseada nos Princípios do Condicionamento

O terapeuta experiente realmente não deveria se surpreender com a eficácia da hipnose em simplificar a terapia. A indução hipnótica pode ser vista como uma técnica para estabelecer um rapport (entenda-se “empatia”) bem intenso, para estabelecer maior segurança, maior crença no terapeuta, pelo qual suas palavras serão muito mais eficazes. Assim como Sundberg e Tyler (1962) observaram, uma das características comuns entre todos os métodos de psicoterapia é a tentativa de “criar um forte relacionamento pessoal que possa ser usado como um veículo de mudança construtiva… É um fato significativo que muitos escritores teóricos, à medida que suas experiências aumentam, vêm a dar muito mais ênfase nesta variável”. (pp. 293-294).

A questão que permanece, no entanto, é esta: qual é exatamente o processo pelo qual “meras palavras” podem produzir enormes mudanças na personalidade?

Tal como observa a teoria da hipnose de Barrios (1969), a capacidade das palavras produzirem mudanças não é realmente tão difícil de compreender se estivermos familiarizados com os princípios do condicionamento de ordem superior.

Primeiramente, sabemos que palavras podem agir como estímulos condicionados.

Pavlov reconheceu este fato:

“Para o ser humano, obviamente a fala fornece estímulos condicionados que são tão reais como qualquer outro estímulo…
A fala, levando-se em conta toda a vida precedente do adulto, está ligada com todos os estímulos internos e externos que podem alcançar o córtex, sinalizando todos eles e substituindo todos eles, podendo, portanto, trazer à tona todas aquelas reações do organismo que normalmente são determinadas pelos próprios estímulos reais”

(Pavlov,1960, p. 407)

Naturalmente, sabemos que sob circunstâncias normais as sugestões não são sempre aceitas (e, portanto, o condicionamento nem sempre acontece quando uma sugestão apropriada é dada). Por que isso acontece? Osgood (1963) acredita que uma sugestão tenderá a ser rejeitada se for incongruente com as crenças e atitudes prévias do indivíduo ou suas percepções atuais. Parece então que se houvessem meios de eliminar estas últimas, seríamos capazes de ter uma sugestão mais prontamente aceitável, simplificando então o condicionamento de ordem superior. A hipnose é um destes meios.

Assim, chegamos à razão da hipnose ser tão eficaz na simplificação da terapia: as percepções, crenças e atitudes dissonantes se abstêm de interferir com a sugestão (e assim com o condicionamento).

Como disse Pavlov:

“O comando do hipnotizador, em correspondência com a lei geral, concentra a excitação no indivíduo (que está numa condição de inibiçãoparcial) em alguma região clara e distintamente estreita, ao mesmo tempo intensificando (por indução negativa) a inibição do resto do córtex e dessa maneira abolindo todos os efeitos conflitantes dos estímulos contemporâneos (percepções atuais) e sinais deixados por aqueles anteriormente recebidos (crenças e atitudes prévias). Isto explica a grande e insuperável influência das sugestões como um estímulo durante a hipnose, bem como logo após esta”.

(Pavlov, 1960, p 407.)

Como exemplo, vamos considerar que queremos mudar a autoimagem de um paciente daquela de uma pessoa incompetente para uma mais autoconfiante. Se sob circunstâncias comuns sugeríssemos que ele não mais se sentisse incompetente, isto muito provavelmente teria pouco êxito. Isto ocorre por que a autoimagem negativa do paciente, geralmente sempre presente e inteiramente dominante, rapidamente suprimiria qualquer imagem positiva sugerida, ou pelo menos evitaria que esta fosse muito vívida ou real. Mas no estado hipnótico super-sugestivo as condições são diferentes. A autoimagem negativa do paciente é mais facilmente inibida e, portanto, deve ser menos propensa a interferir quando evocamos a autoimagem positiva através da sugestão. Como resultado, o condicionamento pode acontecer e novas associações podem ser feitas. A pessoa pode autenticamente imaginar-se se sentindo autoconfiante em várias situações, e estas novas associações condicionadas, por sua vez, podem resultar em um novo comportamento. Esta nova atitude pode agora tornar-se permanente, por meio de auto reforço, assim como sua velha atitude negativa tinha sido mantido estável pelo auto reforço. Enquanto o paciente tem atitudes negativas, estas são auto reforçadas. Elas fazem com que ele se sinta tenso, aja inoportunamente e cometa muitos erros. Além disso, ele provavelmente não acreditaria em qualquer elogio ou qualquer ocorrência positiva, caso aconteçam. Mas se esta autoimagem negativa tiver sido substituída por uma positiva, o ciclo oposto pode resultar. Ao ser mais confiante e descontraído, ele naturalmente tenderá a ser mais aceito. Além disso, ele estará agora mais aberto a acreditar e aceitar os elogios e resultados positivos.

Referências

ABRAMS, S. “Short-term hypnotherapy of a schizophrenic patient”, American Journal of Clinical Hypnosis, 5 (1963), pp. 237-247.

ABRAMS, S. “The use of hypnotic techniques with psychotics. A critical review”, American Journal of Psychotherapy (1964), pp. 79-94.

ALEXANDER, L. “Clinical experiences with hypnosis in psychiatric therapy”, American Journal of Clinical Hypnosis, 7 (1965), pp. 190-206.

ALEXANDER, L. “Conditioned effects of ‘hypnosis’”, American Society of Psycho-somatic Dentistry and Medicine, 13 (1966), pp. 35-53.

BARBER, T.X. “Physiological effects of ‘hypnosis’”, Psychological Bulletin, 58 (1961), pp. 390-419.

BARBER, T.X. “Physiological effects of ‘hypnotic suggestion’”, Psychological Bulletin, 63 (1965), pp. 201-222.

BARBER, T.X. “An empirically-based formulation of hypnotism”, American Journal of Clinical Hypnosis, 12 (1969).

BARRIOS, A.A. “Toward understanding the effectiveness of hypnotherapy: A Combined clinical, theoretical and experimental approach”, Doctoral dissertation, University of California, Los Angeles, 1969.

BAYKUSHEV, S.V. “Hyperventilation as an accelerated hypnotic induction technique”, International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, 17 (1969), pp. 20-24.

BIDDLE, W.E. Hypnosis in the psychoses. Springfield, Ill.: Charles C. Thomas, 1967.

Chong Tong Mun. “Hypnosis in general medical practice in Singapore”, American Journal of Clinical Hypnosis, 6 (1964), pp. 340-344.

Chong Tong Mun. “Psychosomatic medicine and hypnosis”, American Journal of Clinical Hypnosis, 8 (1966), pp. 173-177.

DORCUS, R.M. “Fallacies in predictions of susceptibility to hypnosis based on Personality characteristics”, American Journal Of Clinical Hypnosis, 5 (1963), pp. 163-170.

FREUD, S. The complete psychological works of Sigmund Freud. Volume 18. London: Hogarth Press, 1955.

FROMM, E. “Hypnoanalysis: Theory and two case excerpts”, Psychotherapy, 2 (1965), pp. 127-133.

HARTLAND, J. “The value of ‘ego-strengthening’ procedures prior to direct symptom removal under hypnosis”, American Journal of Clinical Hypnosis, 8 (1966), pp. 89-93.

HOSKOVEC, J., & SVORAD, D. “Recent literature on hypnosis from the European Socialist countries”, American Journal of Clinical Hypnosis, 8 (1966), pp. 210-225.

HUSSAIN, A. “Behavior therapy using hypnosis”, The Conditioning Therapies. New York: Holt, Rinehart & Winston, (1965), pp. 5-20.

JACOBS, L. “Emotional and behavioral problems in clinical pediatrics”, American Society of Psychosomatic Dentistry and Medicine, 11 (1965), pp. 40-56.

KLINE, M.V. Freud and Hypnosis. New York: Julian Press, 1958.

KROGER, W.S. “An analysis of valid and invalid objections to hypnotherapy”, American Journal of Clinical Hypnosis, 6 (1964), pp. 120-131.

KROGER, W.S. Clinical and Experimental Hypnosis. Philadelphia: Lippincott, 1963.

MANN, H. “Hypnosis comes of age”, American Journal of Clinical Hypnosis, 5 (1963), pp. 159-162.

MOWRER, O.H. Learning Theory and the Symbolic Process. New York: John Wiley and Sons, 1960.

OSGOOD, C.E. “On understanding and creating sentences”, American Psychologist, 18 (1963), pp. 735-751.

PASCAL, C.R., & SALZBERG, M.C. “A systematic approach to inducing hypnotic behavior”, International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, 7 (1959), pp. 161-167.

PAVLOV, I.P. Conditioned Reflexes. New York: Dover, 1960.

RICHARDSON, T.A. “Hypnotherapy in frigidity”, American Journal of Clinical Hypnosis, 5 (1963), pp. 194-199.

SACHS, L.D., & ANDERSON, W.L. “Modification of hypnotic susceptibility”, International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, 15 (1967), pp. 172-180.

STEIN, C. “The clenched fist technique as a hypnotic procedure in clinical psychotherapy”, American Journal of Clinical Hypnosis, 6 (1963), pp. 113-119.

SUNDBERG, N.D., & TYLER, L.E. Clinical Psychology. New York: Appleton-Century-Crofts, 1962.

VAN PELT, S.J. Secrets of Hypnotism. Los Angeles, Wilshire Book Company, 1958.

WOLPE, J. Psychotherapy by Reciprocal Inhibition. Palo Alto, Calif.: Stanford University Press, 1958.

WOLPE, J., SALTER, A., & REYNA, L.J. The Conditioning Therapies. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1964.